Por Ricardo Mallet *
Todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer. Provérbio popular O sonho de ganhar a sorte grande. A miraculosa dieta de sete dias. A palestra motivacional. Há algo em comum nestas três idéias: eu o chamo de alívio imediota. Alívio imediota é aquela prática hedionda que utilizamos quando tentamos aplicar uma solução fácil para um problema complexo. É a crença que nos faz pensar que somos muito espertos e que não precisamos de esforços disciplinados para alcançar um grande objetivo. Basta ter aquela “grande sacada”. A questão é que a tal grande sacada muitas vezes (ou quase sempre) nos leva a uma solução paliativa que apenas oculta a verdadeira causa, fazendo com que o problema volte a aparecer com maior intensidade noutro momento. Peter Senge, especialista em aprendizagem organizacional, chamou a este comportamento de “consertos que estragam”. Como exemplo, ele cita a prática de colocar uma moeda no lugar do fusível para religar a energia elétrica. Da próxima vez que ocorrer um pico de energia, compreenderemos porque Senge chamou a esse comportamento de “consertos que estragam”… A prática do alívio imediota destrói as finanças, a saúde e a vida de bilhões de pessoas no mundo todo. Milhares permanecem na miséria, mas continuam alimentando a esperança de ganhar a sorte grande ao invés de confrontar sua verdadeira ignorância financeira e refletir sobre seu comportamento de consumo. Curiosamente, boa parte dos ganhadores da loteria perdem toda a sua fortuna justamente por não saber lidar com dinheiro. Há aqueles que acreditam que uma dieta miraculosa, um remédio ou uma cirurgia irá resolver para sempre o seu problema de obesidade; vão empurrando com a barriga uma necessária reeducação alimentar, até que sua saúde seja totalmente corrompida por recursos químicos e agressivas intervenções cirúrgicas. Nas empresas, anualmente, são gastos bilhares de dólares em palestras e eventos motivacionais. Dinheiro posto fora, pois o “Viagra motivacional” tem um efeito fugaz – só disfarça a real falta de propósito que impera no universo corporativo. Após algumas semanas (ou dias!) o efeito passa, tornando ainda mais forte a desmotivação e a descrença dos colaboradores. E por que esse fenômeno preocupa? Porque somos brasileiros e em nosso país recebemos pós-graduação na ciência do alívio imediota. O famoso “jeitinho brasileiro” nada mais é do que a institucionalização desta prática, fazendo com que o povo teime em desperdiçar tempo na eterna busca pelo caminho mais fácil em detrimento de um saudável e necessário amadurecimento ético e comportamental. Devemos aceitar que fazer uma bomba com um cadarço puído, um clipe retorcido e um pote de Pomada Minancora somente era possível nos episódios do MacGyver. Na vida real, nós, brasileiros, precisamos de menos jeitinho e de mais disciplina, pois nossa criatividade não suplanta a inovação global. E por falar em global, sinto informar que o alívio imediota não é um patrimônio exclusivamente tupiniquim. A população mundial também está cada vez mais imediotista, buscando a felicidade em drágeas sem querer pagar o preço do desenvolvimento pessoal. É como cantava Evandro Mesquita numa das músicas da banda Blitz: todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer! * Ricardo Mallet é diretor da Unani.me. Graduado em Gestão Empresarial com extensão em Estilo de Gestão e Liderança pela FGV, consultor e palestrante com 20 anos de experiência no mercado de treinamentos. Certificação internacional em Coaching, Mentoring e Holomentoring® do Sistema ISOR®.
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